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Mostrando postagens de 2018

Síndrome de Alienação

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A alienação lhe conferia um poder: o da autossuficiência, que debochava dos valores os quais se tornara imune e que há muito tempo já não faziam sentido. Ver de fora lhe aguçava tal visão. Olhos de raios-X, vendo a efemeridade dos esqueletos revestidos da fantasia que protegem os corpos e almas de perderem o prazer em viver. Quisera-lhe ainda possuir resquícios dessa ilusão. Sintomas de inveja nas pontas de seus pelos transpareciam ao se arrepiarem com o desejo de voltar a tê-los, ou com o ressentimento do dia em que foram perdidos. O desejo de desejar riscava uma faísca na inveja de invejar, só para resgatar a vontade do que deixou de fazer falta. Não sentir falta deveria ser felicidade, um sinal de plenitude. No entanto, apenas o provocava a "andar pelas ruas com uma placa pendurada no pescoço, dizendo: o fim está próximo". Um moribundo com vontade de viver, mas não neste mundo. Eis a falta: a de um lugar que corresponda ao ideal. Eis a distopia: quando você sai do mundo

Escritor Virtual

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Chegará o dia em que o leitor encomendará livros (digitais, é claro 😶 ) a algum sistema de inteligência artificial mediante algum dispositivo eletrônico não disponível ainda, e o escritor virtual criará, de bate-pronto, uma história exclusiva baseada nos gostos e estilo preferido do leitor. O sistema de Inteligência Artificial perguntará: — Você quer rir? Chorar? Refletir? Gozar? Fantasiar? Viajar na maionese? Filosofar? Fugir da realidade? Aprender? Afirmar suas crenças? Transformar sua vida atual? O que você quer? Diga e eu escreverei a história que você deseja "ler"! E o escritor virtual, em questão de segundos, comporá uma história para o leitor do futuro, que por sua vez, não precisará nem se dar ao trabalho de ler – trabalho, de qualquer tipo, será coisa do passado. – A história será transferida diretamente para um chip de assimilação implantado no cérebro, que também será turbinado eletronicamente graças a uma nova tecnologia bioquântica. O café, aquele da imag

Venda ilusão, a realidade não existe

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E a cartomante me disse: — Venda ilusão, a realidade não existe. — E a ilusão, existe? — Cada vez mais! É real o que podemos tocar. Para além disso, é infinito. Infinito é o que não podemos alcançar. É o que está além da ponta dos meus dedos com os braços esticados. Se dou um passo, vou um passo além. A cada passo, mais a alcançar. Ouvi dizer que somos deuses, que tudo posso. Que pensamento cruel! Agora quero poderes de Deus. Quero ser onipotente, onisciente e onipresente. Afinal, sou Deus! E Deus, a tudo alcança. Se eu não alcançar, não sou Deus. Triste pretensão que me impede de conformar-me em ser uma célula, e faz desejar a abrangência. Queremos Tudo. Não nos basta o Aqui. Queremos o Todo. Não nos basta também o Lá. Quero o Aqui e o Lá, mas não posso ter Tudo; meus braços não alcançam. Para expandir o infinito, o amplio para o alcance do olhar, e o infinito se torna maior que os meus braços. Ainda é pouco. Para expandir a visão, a amplio para o alcance dos pensamento

O Destino Último

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Era uma nave tão grande que seria perenemente confundida com um planeta, não chegasse o dia em que ela finalmente pousaria no seu destino último: o mundo no qual todos deixariam de ser passageiros para se tornarem residentes perpétuos. Um desembarque de tamanha proporção não se fez instantaneamente. Demorou o equivalente a noventa anos da nave Terra para todos desembarcarem. Para alguns foi menos, para outros, mais, em função de seus lugares na fila ordenada que estabelecia o tempo de cada um. Enquanto ocorria, os passageiros na grande nave variavam distrações, entre dormir, despertar e entreter-se com ocupações que lhes davam um propósito imanente, ilusoriamente sustentado durante a viagem.  Um dia o desembarque seria concluído, e assim se fez. Todos acordaram de súbito num lugar que nada tinha de diferente da nave, exceto a sensação de definitivo que cada um sentiu imediatamente ao despertar. Ao desembarque, foram dadas diferentes denominações, segundo as crenças aprendidas

Dor: o princípio da Vida

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Que graça há em viver uma vida fácil, se o princípio é em dor? A dor de nascer, da dificuldade que valoriza o que vem depois: o futuro. É considerada fácil uma vida entregue ao prazer. E que prazer é maior do que o sexo, princípio de vida? A moral censura o princípio da vida. Por desejo e prazer na facilidade do gozo, mais do que o próprio gozo, quantos nascimentos ocorrem por fecundação acidental? Pois talvez, nenhuma gestação tenha sido realmente acidental, nem mesmo as indesejadas. Tal 'acidente' não é consequência da facilidade do prazer, apenas, mas da busca inconsciente pela dor que a valoriza. A vida quer tanto viver, quanto desejamos ser eternos. Para prolongar nossa existência acidental, incidimos na continuidade do acidente em cada gozo indevido, displicência, camisinha furada ou erro de cálculo de tabela; a tabela periódica que diz: 'hoje pode, ou hoje não pode', e mesmo não podendo, gozamos, fecundamos, porque instintivamente o que se quer é a dor do novo p

Opinião do leitor

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Opiniões de leitores de DesapEGO Livro, compilados a partir de mensagens recebidas pelo WhatsApp, Messenger, postagens e comentários do Facebook. Uma profunda curiosidade habita o escritor: a de sentir a própria obra com o mesmo ineditismo com que o leitor a sente enquanto lê. A graça da surpresa, da epifania, da identificação, do interesse pelo devir nas páginas seguintes, do aconchego solidário das palavras ou do incômodo à reflexão. Sentimentos e emoções que não podem ser experimentados igualmente, até porquê, cada experiência de leitura é tão única quanto foi a de escrever. Há, porém, pontos em que leitor e escritor inevitavelmente se encontram: aqueles em que ambos percebem estarem lendo-se na empatia. É quando, à distância, conectados pelas palavras e transcendendo o tempo, um diz ao outro: eu sei o que você sentia. Sou grato a todos que me contam sua experiência de leitura, porque somente assim é possível conhecer o alcance da obra e o seu valor como um livro que merece ser

Nota Biográfica do Autor: Gutto Carrer Lima

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José Augusto (Gutto) Carrer Lima nasceu em 1964, natural de Bauru (SP) onde viveu a infância, mas mudou-se no início de sua adolescência para a Capital de São Paulo. Estudante de arquitetura e aspirante à musica, psicologia e esoterismo, cessou o estudo formal ao tornar-se pai aos vinte anos. Priorizando o trabalho diante da responsabilidade familiar relativamente precoce, empreendeu um estúdio de criação em artes gráficas. Por demanda, logo o microempreendimento evoluiu para uma agência de publicidade. Como publicitário, buscou o conhecimento 'just in time' desenvolvendo assim, carreira autodidata como designer e produtor gráfico, redator e diretor de criação e arte. Especializou-se em marketing direto, campanhas promocionais, editoriais, identidade visual corporativa, marketing para restaurantes e fidelização de clientes. No auge de seu crescimento profissional, entrou em depressão após separação no casamento. Do estado decorrente de 'Burnout' e de drásticas rupturas

A que propósito atende DesapEGO - O Livro?

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Atribuir propósito a um livro cujo conteúdo não fosse especificamente didático seria um paradoxo ao conceito da arte como finalidade em si mesma, ou seja, a finalidade da expressão. Não obstante, a expressão na literatura de alta qualidade alcança propósitos para além do que o autor poderia imaginar enquanto escrevia. A epifania despertada no leitor, a identificação com as personagens e com os diversos contextos na história narrada, são exemplos dessa transcendência que adquire, a partir da experiência, da inteligência e sensibilidade do próprio leitor, a capacidade de provocar reflexão e, por conseguinte, transformação. Um bom leitor, com um bom livro em mãos, não será o mesmo após lê-lo. Assim, o propósito da literatura é transformar a quem busca por crescimento intelectual, autoconhecimento, equilíbrio emocional, alento espiritual e tantas outras referências que ampliem a visão de si mesmo, da vida e do mundo. DesapEGO oferece essas possibilidades. É um livro para refletir, de ques

Abandono ou exclusão?

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Como eu poderia ter abandonado ao mesmo contexto que antes me excluiu? – A visão de quem vai e de quem fica se fixa no ponto que lhe causa menor dor. ( DesapEGO - O Livro , Capítulo Vida Extra, pág. 520) – Gutto Carrer Lima Foto: Antonio C P de Melo

Vida feita de quê?

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Me disseram: — "A vida é feita de escolhas." – E no meu íntimo acreditei que sem escolhas a vida não se faria; seria imprescindível ter o que escolher. Mas para escolher, é preciso responsabilidade; então pensei: — A vida é feita de responsabilidade. – E no meu íntimo a vida pesou, porque entre responsabilidade e desejo, descobri o dilema: — A vida é feita de dilemas. – No meu íntimo, agora conheci a angústia, porque angustiante é todo dilema: — A vida é feita de angústia. – Tantas vezes pareceu melhor não precisar escolher. Seria muito mais simples que escolhessem por mim. Não sentiria o êxtase da glória, mas também não teria o risco do arrependimento. De escolha, a vida se fez responsabilidade, dilema e angústia, entre glória ou culpa, sucesso ou fracasso, realização ou frustração, felicidade ou desgosto. Antes da glória, do sucesso, realização e felicidade, haveria uma grande decisão; uma grande angústia. Para diminuí-la, concluí: — A vida é uma chantagista e o tempo é o

Buscar ou esperar o encontro?

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Li por aí que a busca se opõe à oportunidade do encontro, levando a crer que para encontrar, não se deverá estar buscando. Eu também já escrevi que em determinado ponto de minha vida, parei de correr feito louco atrás das coisas para que as coisas pudessem me alcançar. – Afinal, buscar ou não buscar? Devemos permanecer inertes como um vegetal? Vamos pensar... 🤔 A palavra inerte nos remete, em princípio, a estar parado; porém, " inércia refere-se à resistência que um corpo oferece à alteração do seu estado de repouso ou de movimento"*. Ou seja: o que está em movimento, resistirá a parar, e o que está parado, resistirá a ser posto em movimento. Logo, se estou em constante busca, será necessária uma força maior do que a que me motiva, para me parar. E se vivo parado à espera de que algo aconteça, será necessária uma força maior para me colocar em movimento. Por isso dizem que é necessário mais energia para fazer o ventilador começar a girar, do que para mantê-lo girando. No

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